Comunicações orais evidenciam a importância da interiorização do Ensino, Pesquisa e Extensão

A primeira atividade do Se²pin nesta terça-feira (24) consistiu nas apresentações orais. Cerca de 40 estudantes de todos os campi do IFPR apresentaram trabalhos nesta modalidade. Os projetos deixam evidente a importância e os possíveis impactos sociais da política pública de interiorização do Ensino, Pesquisa e Extensão promovida pelos institutos federais.

Os problemas de pesquisa dialogam com necessidades locais, e os trabalhos buscam por soluções muitas vezes simples para problemas que são, na maioria das vezes, complexos.

De forma geral, os trabalhos surpreendem pela qualidade e também pela visão social dos seus autores, a maioria deles estudantes de cursos técnicos de nível médio.

A seguir, destacamos três exemplos de trabalhos que fazem parte de um universo de 41 projetos apresentados na manhã desta terça.

Mulheres de Colombo

Um deles é o da estudante Larissa Hadassa de Medeiros, 15 anos, estudante do primeiro ano do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio do Campus Colombo. Em sua primeira participação no S²epin, ela abordou a questão da participação da mulher no mundo do trabalho, com foco na realidade colombense.

Fotografia mostra estudante vestida com camiseta e blusa brancas.
No primeiro ano do Ensino Médio, Larissa de Medeiros desenvolve estudos de gênero

Segundo dados coletados por ela junto a órgãos oficiais, as taxas de alfabetização de mulheres no município são muito baixas, e o índice de mulheres com Ensino Superior completo (apenas 8%) também.

“De mais de 100 mil mulheres no município, apenas 36% possuem trabalho formal”, conta. “É necessário falar sobre isso na escola e ampliar essa discussão, porque a maioria dessas mulheres não tem acesso a nada além do trabalho doméstico”, explica, preocupada, a estudante.

“No campus, promovemos oficinas de artesanato e de informática e lá elas se distraem, aprendem coisas diferentes e percebem que são muito maiores que as limitações que lhes são impostas: quando uma mulher nasce ela já é introduzida em um estereótipo de fragilidade, futilidade e submissão, então tentamos ampliar as visões delas, mostrar que podem fazer outras coisas além de ficarem restritas ao trabalho doméstico”, conta.

“De qualquer forma, acredito que não só em Colombo, mas em todos os municípios, é necessário falar sobre esse assunto, reconhecer o papel da mulher e desconstruir a desigualdade de gênero que ainda hoje é gigante”, afirma.

Segundo a autora, este trabalho se fundamenta nas contribuições teóricas de Paulo Freire. “Primeiro a gente busca conhecer os indivíduos, sua realidade, seus desejos, para só depois trabalhar conteúdos educacionais apropriados às realidades deles”, conta.

Horta informatizada

Cássia Megumi Fuku Oban, do quarto ano do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio, apresentou um sistema de irrigação de hortas caseiras, que consiste num aplicativo mobile chamado “Umidae”.

“Pensamos nas pessoas que possuem horta caseira, e que,  dessa forma, atuam na agricultura de subsistência, que querem alimentos saudáveis, sem agrotóxicos e de menor custo, e que não possuam muito tempo para cuidar da horta”, explica a estudante.

“Como o uso da internet pelo celular está disseminado e em crescimento, desenvolvemos um aplicativo que se liga a um banco de dados, que está ligado a uma placa arduíno, que aciona uma bomba de água quando o usuário manda ou, se for o caso, automaticamente”, explica.

“O sistema é equipado com um sensor de umidade e temperatura: quando a temperatura estiver muito alta ou a umidade muito baixa, o sistema irriga a horta automaticamente, mas nada impede que o usuário programe a irrigação para o horário que quiser”, diz a pesquisadora.

Já existem sistemas de irrigação informatizados para grandes propriedades, mas este, provavelmente, é o primeiro destinado ao uso doméstico. Além dos equipamentos já mencionados, o sistema precisa estar conectado a uma rede wi-fi.

Tratamento descentralizado de esgoto

Lucas Matheus dos Santos Nascimento, do quarto ano do curso Técnico em Meio Ambiente Integrado ao Ensino Médio, também do Campus Paranaguá, apresentou protótipos de dois sistemas descentralizados de tratamento de esgoto (“Wetland”) que se baseiam no tratamento biológico desses resíduos.

Fotografia apresenta os dois estudantes citados na matéria. Abraçados, eles sorriem.
Cássia e Lucas, do Campus Paranaguá, também desenvolvem pesquisas aplicadas a problemas locais

Basicamente, o projeto apresentado por ele no Se²pin trata da construção e funcionamento do sistema. “Eu trouxe desenhos esquemáticos e o relato de como construí os dois sistemas, um plantado e outro não plantado”, explica.

“Cada um dos sistemas é composto por duas grandes bombas, que ficam em tambores; um dos tambores tem pedra brita e a planta taboa (gênero tipha) e outro possui apenas a brita, e são nestes tambores que colocamos o afluente”, diz.

No campus, o estudante faz análises microbiológicas sobre o desenvolvimento de bactérias e fungos nesses sistemas, verificando como os microrganismos tratam o esgoto. O objetivo é mostrar o funcionamento dos dois sistemas, mostrando como acontece  o tratamento local (descentralizado) do esgoto em cada um.

Bolsista de iniciação científica do CNPq, Lucas Matheus dos Santos Nascimento é veterano no Se²pin. É a terceira vez que ele vem ao Seminário, porém é a primeira em que apresenta trabalho na modalidade oral. “Sou apaixonado pelo Se²pin, na verdade sou apaixonado pelo Instituto Federal: para mim, o IFPR é um divisor de águas pessoal”, conta.

Os sistemas descentralizados de esgoto funcionam independentemente da rede de tratamento oficial e podem ser aplicados às mais diversas realidades locais.

Como os trabalhos são selecionados para as apresentações orais

Cada campus possui critérios próprios para efetuar a seleção dos trabalhos que serão escolhidos para as apresentações orais, e cerca de 10% dos projetos de cada campus são destinados a esta modalidade. Geralmente, são escolhidos os que mais se destacam.

Nas comunicações orais, os estudantes possuem 20 minutos para apresentar os problemas de pesquisa, o desenvolvimento do trabalho e as suas respectivas conclusões.